XAVIER DE MAISTRE E ALMEIDA GARRETT
Xavier de Maistre está presente no início das VIAGENS de A. Garrett.
Quem foi X. de Maistre?
Pode ver-se aqui (http://pt.wikipedia.org/wiki/Xavier_de_Maistre) ou na introdução do seu livro editado pela &ETC
Irmão do filósofo Joseph de
Maistre, Xavier de Maistre (…) é o tipo por excelência do diletante, pouco se
preocupando com coisas sérias e com a posteridade, preguiçando durante 15 anos entre a Viagem e o Leproso. Publicada sem o nome do autor, a Viagem apresenta-se como fruto de 42
dias de detenção; dará origem a um "remake" de interesse menor: Expedição Nocturna à Roda do Meu
Quarto.
À voga das narrativas
de aventuras e de viagens, De Maistre opõe a imobilidade mais completa, graças
à qual pode escapar a contingências e dar livre curso à imaginação; generaliza
o desarranjo paródico, a viragem. "Enquanto eles descrevem o mundo, vou eu
descrever o meu quarto", será esta a sua divisa. É, portanto, ao regressar
à liberdade que ele volta a entrar no cativeiro. O jogo com o leitor é
constante, de inversão em contra-marcha, de digressão em digressão, de
anti-romance
em anti-viagem.
Para além daquilo que
compartilha com a narrativa paródica, podemos ver
perfilar-se
na Viagem a dupla renovação que constitui a revolução romântica: o advento do eu e a explosão dos géneros.
O
conde Xavier de Maistre oferece-se a nós como um daqueles
homens cuja descoberta nos consola de muitas das desilusões em literatura,
reconciliando-nos docemente com a natureza humana... Haveríamos de tirar
prazer e proveito de mais do que um dos seus juízos ingénuos e subtis.
(Sainte-Beuve
(crítico literário francês, 1804-1869)
in: Viagem à Roda Do Meu Quarto, ed.
&ETC, Lisboa, 2002
Leitura do primeiro capítulo de VIAGEM À RODA DO MEU QUARTO:
CAPÍTULO I
Como é glorioso iniciar uma
nova carreira, e aparecer subitamente no mundo culto, com um livro de
descobertas na mão, tal um cometa inesperado que fulge no espaço!
Não, não mais guardarei o meu livro in petto; ei-lo,
senhores, leiam-no. Iniciei e terminei uma viagem de quarenta e dois dias à
roda do meu quarto. As observações interessantes que recolhi e o prazer
contínuo que experimentei ao longo do caminho fizeram com que desejasse
torná-la pública; a certeza de ser útil conduziu-me a esta decisão.
Sente o meu coração uma satisfação inexprimível quando penso no número infinito
de infelizes a quem ofereço um meio garantido contra o tédio e um alívio para
os males de que sofrem. O prazer que se encontra ao viajar no próprio quarto
está ao abrigo da inquieta inveja dos homens; é independente da fortuna.
Terá uma pessoa de ser, efectivamente, bastante infeliz, assaz
abandonada, para não ter um reduto onde possa refugiar-se e esconder-se de toda a
gente?
Eis todos os condimentos da viagem.
Estou certo
de que qualquer homem sensato adoptará o meu sistema, seja qual for o seu
carácter, qualquer que seja o seu temperamento; avaro
ou pródigo, rico ou pobre, jovem ou velho, nascido na zona tórrida ou perto do
pólo, pode viajar como eu; enfim, na imensa família dos homens que pululam
sobre a superfície da terra, não existe um só — um só que seja (entenda-se, daqueles que habitam quartos) — que possa, depois de ter lido
este livro, recusar-se a aprovar a nova maneira de
viajar que introduzo no mundo.
Xavier de Maistre
Viagem à Roda do Meu Quarto,
Ed. &ETC, Lisboa, 2002
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Me interessei muito pela leitura do livro- o título instiga o deseja de ler.E o primeiro capítulo muito feliz,
ResponderEliminar'À roda do meu quarto',preciso dessa viagem rs,
Procurei aqui pela net e a Livraria Cultura disponibiliza, nao sei se a essa época.
Descobri este blog, Joaquim já estou aproveitando suas dicas,
obrigada