O espírito de quem viaja...
ENTÃO… BOA VIAGEM!
Qual é a essência de uma viagem?
Mais do que o percurso ou o ponto de chegada, o que conta é o espírito de quem
a faz. Ou seja: o famoso “sei que não vou por aí!”, de José Régio, traduzido
por “o tino é mais importante que o destino”!
Seja a “VIAGEM AO FIM DA NOITE” –
isto é, ao mais recôndito da alma humana -, ou a “VIAGEM À RODA DO MEU QUARTO”
– divertido e lúcido passatempo de um prisioneiro no século XVIII, - é na
cabeça dos viajantes que lemos a geografia do caminho andado. “VIAGENS NA MINHA
TERRA” - Tejo acima, até Vila Nova da Rainha, e um passeio de mula da Azambuja
até Santarém – pouco seria se não fosse a pena do escritor brilhante a transfigurar
a paisagem. “VIAGEM AO CENTRO DA TERRA” - mergulho no mais delirante e
verosímil mundo imaginário – continua a incendiar as nossas memórias de
leitores. “OS LUSÍADAS” – essa viagem de todos nós ao oriente do nosso oriente
– é um livro aborrecido apenas para quem se deixou embotar por novelas mal
amanhadas. Valha-nos alguém da nova geração para nos propor “UMA VIAGEM À
INDIA” – visão irónica e desencantada de quem perdeu caravelas e navega agora
na vulgaridade de um continente sem horizontes.
Livros para abalar daqui, ir embora, dar de frosques…
Então… Boa viagem!
JMD
Livros para abalar daqui, ir embora, dar de frosques…
Então… Boa viagem!
JMD
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CITAÇÔES
(…)
Viajar es marcharse de casa,
es vestirse de loco,
diciendo todo y nada
con una postal.
Es dormir en otra cama,
sentir que el tiempo es corto.Viajar es regresar!
es vestirse de loco,
diciendo todo y nada
con una postal.
Es dormir en otra cama,
sentir que el tiempo es corto.Viajar es regresar!
Gabriel García Márquez
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"O que muito viaja aumenta a sua
sagacidade.
Muita coisa vi nas minhas viagens, o meu
conhecimento é maior do que as minhas palavras.
(Eclesiástico 34,10-11)
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"Diz-se
que é preciso viajar para ver o mundo. Por vezes, penso que, se estiveres
quieto num único sítio e com os olhos bem abertos, verás tudo o que podes
controlar.”
(Paul Auster)
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Cap. I
Ao cair de uma tarde de Dezembro, de sincero e genuíno Dezembro, chuvoso, frio, açoutado do sul e sem contrafeitos
sorrisos de Primavera, subiam dois viandantes a encosta de um monte por a
estreita e sinuosa vereda, que pretensiosamente gozava das honras de estrada, à falta de competidora, em que melhor
coubessem.
(A Morgadinha dos Canaviais, Júlio Dinis)
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Leitura de um trecho d' A Morgadinha dos Canaviais:
A MORGADINHA DOS CANAVIAIS
Júlio Dinis
Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses,
cap. I
«O leitor provavelmente há-de ter
jornadeado alguma vez; sabe portanto que o grato e quase voluptuoso alvoroço
com que se concebe e planiza qualquer projecto de viagem, assim como a suave
recordação que dela guardamos depois, são coisas de incomparavelmente muito
maiores delícias, do que as impressões experimentadas no próprio momento de nos
vermos errantes em plena estrada ou pernoitando nas estalagens, e mormente nas
clássicas estalagens das nossas províncias. As pequenas impertinências, em que
se não pensa antes, que se esquecem depois, ou que a saudade consegue dourar
até e poetizar a seu modo; esses microscópicos martírios, que de longe não
avultam, actuam-nos, na ocasião, a ponto de nos inabilitar para o gozo do que é
realmente belo. A dureza do colchão em que se dorme, do albardão ou selim sobre
que se monta, o tempero ou destempero do heteróclito cozinhado com que se enche
o estômago, a lama que nos incrusta até os cabelos, o pó que se nos insinua até
os pulmões, o frio que nos inteiriça os membros, o sol que nos congestiona o cérebro,
tudo então nos desafina o espírito, que trazíamos na tensão necessária para
vibrar perante as maravilhas da natureza ou da arte.
Só pelo preço de muitas jornadas
se compra o hábito de ficar impassível no meio dos episódios destas pequenas
odisseias, que atormentam e exaurem o ânimo dos Ulisses novatos; mas ai, quando
se adquire esse hábito, também nos achamos já com a sensibilidade mais embotada
para as comoções do belo.
Examina-se com mais
minuciosidade, mas com menos entusiasmo; analisa--se mais e melhor; porém a
própria análise é a prova de que se sente menos.
Onde domina o sentimento e a
imaginação, mal têm cabida a paciência e fleuma, necessárias aos processos
analíticos. O homem positivo e frio recolhe de qualquer excursão à pátria com a
carteira cheia de apontamentos; o entusiasta e poeta nem uma data regista. Viu
menos, sentiu mais.»
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