—
Era como uma vaga de mar bravo, sô doutor. Grande e forte, a mal ninguém o levava! Estava sempre
pelo lado do dirêto, da justiça. Por bem, 'té a uma
criancinha ele respêtava. Mas por mal quando tinha rezão...
Foi ali.
Ali, naquele
mar azul-cinza, é que ele desapareceu para sempre. Era o melhor pescador à
linha da frota bacalhoeira portuguesa.
Naquela manhã, tal
como nas outras, saíra com o seu barquito, o seu «dóri», para a pesca
individual... Ele e os companheiros. Mas estes, enquanto a tarde caía, com
mais ou menos bacalhau, lá foram voltando ao navio, uns após os outros, Ele
não. Nunca mais: Talvez a névoa cerrada... Talvez a canoa viesse demasiadamente
cheia: se ele era o primeiro, entre os pescadores!... Talvez... talvez...
Lá ficou.
Para sempre.
Sozinho, naquele
mar sem fim!!
Ninguém viu o
terror do seu último olhar. Ninguém ouviu os seus gritos, as suas súplicas...
Era jovem, forte,
generoso!...
—
Foi ali mesmo naquele ma!
E tu, Oceano, não o dizes, não o gritas! não estás marcado,
mar!? Nem uma cicatriz indelével, feita com as sombras da noite mais negra, nem
uma coluna eterna de sal... Nada.
Liso, calmo, como sempre cinzento-azulado...: Ah,
mar, tenho-te medo e raiva!
Quem? Quem este ano?!...
Nos Mares do Fim do Mundo
Bernardo Santareno
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