domingo, 20 de janeiro de 2013

10ª SESSÃO - 17 JANEIRO 2013


VISITA GUIADA


. Viagem a Santarém pelo percurso das VIAGENS NA MINHA TERRA ( Vila Nova da Rainha, Azambuja, Cartaxo e Vale de Santarém). Ruas de Santarém por onde Garrett andou...

. Visita à casa da Alcáçova - casa de Passos Manuel, agora Fundação Passos Canavarro - e Portas do Sol. Quarto onde Garrett dormiu, varanda de onde avistou o Tejo...





Fotos do blogue 

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. Alpiarça, (vila onde Passos Manuel também teve uma Quinta) e onde se situa a Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça, do grande vulto republicano José Relvas.



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No final da visita guiada, leitura de


TEXTO DE RAMALHO ORTIGÃO SOBRE ALMEIDA GARRETT


«A influência desta grande personalidade essencialmente artística, foi enorme sobre a sociedade portuguesa desde 1820 até 1840. O tempo decorrido, a perspectiva interposta deixa-nos bem apreciar a decisiva acção de tal homem sobre a mentalidade do seu tempo.
Portugal saía apenas dos domínios esmagadores de um re gime despótico e clerical. Vinha embrutecido e estúpido. Os I primeiros clarões da liberdade feriam-lhe a vista e deslum­bravam-no dolorosamente. Vinha de rezar a via sacra pelos claustros das igrejas, vinha de acompanhar os autos-de-fé e as procissões de penitência, vestido de farricoco, arrastando grilhões tenebrosos e mastigando ossos de defunto.
Desde Camões para cá, a arte não tornara a achar uma só nota alegre, penetrante, humana. Os poetas são beatos lacri­mosos ou biltres debochados e sujos. Uma profunda corrup­ção, imunda e hipócrita, de confessionário e de alcova de freira, revolve os costumes da corte e da nobreza atolados na gula fradesca das jeropigas e das marmeladas de Odivelas. O povo tem medo de tudo, e reza; tem medo do rei, tem medo dos corregedores, tem medo dos capitães-mores, tem medo das bruxas e tem medo do diabo. A mulher pertence a três categorias: a freira, a besta de carga e a emissária do de­mónio, encarregada por ele de tentar as almas, segundo os processos explicados pelos Santos Padres. Em 1830, duzen­tos anos de tristeza, de cobardia, de traição, de crápula, pe­sam ainda sobre as nossas almas. O cheiro da pólvora, que se principia a sentir, atenua apenas, mas não destrói o cheiro do bafio de sacristia que se nos pregou à pele.
É no meio dessa sociedade, desbravada apenas da servidão católica-monárquica, devota ainda, mal-humorada e casmur­ra, que Garrett aparece, mensageiro do novo espírito euro­peu.
Foi ele que, de chapéu branco, calças de quadrados, gra­vata encarnada, monóculo no olho, um charuto nos beiços e uma chibata em punho, vergastou as orelhas do Velho Mun­do Português e o obrigou a abrir a primeira garrafa de cham­panhe.
Nós não éramos todos senão uns pobres velhotes; uns gin­jas, uns xexés. Foi ele o primeiro que, por meio dos seus li­vros, nos deitou nos copos e nos fez beber o vinho da moci­dade. E foi depois de reconfortados por esse generoso licor de poesia, que nós aprendemos a estimar a beleza, a amar a |liberdade, a compreender as artes e a querer o progresso.»

(in: FARPAS ESCOLHIDAS, Ramalho Ortigão, selecção e introdução por Ernesto Rodrigues, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, s/d, s/l)




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