segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

5ª SESSÃO - 22 NOVEMBRO

XAVIER DE MAISTRE E ALMEIDA GARRETT


Xavier de Maistre está presente no início das VIAGENS de A. Garrett.
Quem foi X. de Maistre?
Pode ver-se aqui (http://pt.wikipedia.org/wiki/Xavier_de_Maistre) ou na introdução do seu livro editado pela &ETC


Irmão do filósofo Joseph de Maistre, Xavier de Maistre (…) é o tipo por excelência do diletante, pouco se preocupando com coi­sas sérias e com a posteridade, preguiçando durante 15 anos entre a Viagem e o Leproso. Publicada sem o nome do autor, a Viagem apre­senta-se como fruto de 42 dias de detenção; dará origem a um "re­make" de interesse menor: Expedição Nocturna à Roda do Meu Quarto.

À voga das narrativas de aventuras e de viagens, De Maistre opõe a imobilidade mais completa, graças à qual pode escapar a con­tingências e dar livre curso à imaginação; generaliza o desarranjo paródico, a viragem. "Enquanto eles descrevem o mundo, vou eu des­crever o meu quarto", será esta a sua divisa. É, portanto, ao regres­sar à liberdade que ele volta a entrar no cativeiro. O jogo com o leitor é constante, de inversão em contra-marcha, de digressão em digressão, de anti-romance em anti-viagem.
Para além daquilo que compartilha com a narrativa paródica, po­demos ver perfilar-se na Viagem a dupla renovação que constitui a re­volução romântica: o advento do eu e a explosão dos géneros.
O conde Xavier de Maistre oferece-se a nós como um daqueles ho­mens cuja descoberta nos consola de muitas das desilusões em litera­tura, reconciliando-nos docemente com a natureza humana... Havería­mos de tirar prazer e proveito de mais do que um dos seus juízos ingénuos e subtis.
(Sainte-Beuve (crítico literário francês, 1804-1869)

in: Viagem à Roda Do Meu Quarto, ed. &ETC, Lisboa, 2002






Leitura do primeiro capítulo de VIAGEM À RODA DO MEU QUARTO:



CAPÍTULO I

Como é glorioso iniciar uma nova carreira, e aparecer subita­mente no mundo culto, com um livro de descobertas na mão, tal um cometa inesperado que fulge no espaço!
Não, não mais guardarei o meu livro in petto; ei-lo, senhores, leiam-no. Iniciei e terminei uma viagem de quarenta e dois dias à roda do meu quarto. As observações interessantes que recolhi e o prazer contínuo que experimentei ao longo do caminho fizeram com que de­sejasse torná-la pública; a certeza de ser útil conduziu-me a esta deci­são. Sente o meu coração uma satisfação inexprimível quando penso no número infinito de infelizes a quem ofereço um meio garantido contra o tédio e um alívio para os males de que sofrem. O prazer que se encontra ao viajar no próprio quarto está ao abrigo da inquieta in­veja dos homens; é independente da fortuna.
Terá uma pessoa de ser, efectivamente, bastante infeliz, assaz abandonada, para não ter um reduto onde possa refugiar-se e escon­der-se de toda a gente?
Eis todos os condimentos da viagem.
Estou certo de que qualquer homem sensato adoptará o meu sis­tema, seja qual for o seu carácter, qualquer que seja o seu temperamento; avaro ou pródigo, rico ou pobre, jovem ou velho, nascido na zona tórrida ou perto do pólo, pode viajar como eu; enfim, na imensa família dos homens que pululam sobre a superfície da terra, não existe um só — um só que seja (entenda-se, daqueles que habitam quartos) — que possa, depois de ter lido este livro, recusar-se a aprovar a nova maneira de viajar que introduzo no mundo.

Xavier de Maistre
Viagem à Roda do Meu Quarto,
Ed. &ETC, Lisboa, 2002


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1 comentário:

  1. Me interessei muito pela leitura do livro- o título instiga o deseja de ler.E o primeiro capítulo muito feliz,
    'À roda do meu quarto',preciso dessa viagem rs,
    Procurei aqui pela net e a Livraria Cultura disponibiliza, nao sei se a essa época.
    Descobri este blog, Joaquim já estou aproveitando suas dicas,
    obrigada

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